texto publicado originalmente no Portal BE News
O Brasil terá um papel estratégico na transição energética do setor de navegação, se consolidando como o maior fornecedor mundial de combustíveis alternativos. Nesse cenário, a produção brasileira desses produtos e seu fornecimento serão importantes para que a indústria global do transporte marítimo reduza seus impactos ambientais, especialmente a emissão de gases do efeito estufa. A análise é do diretor de Tecnologia de Operações da Autoridade Portuária e Marítima (MPA, na sigla em inglês) de Singapura, David Foo.
O executivo destacou a importância brasileira e os desafios da transição energética nos setores portuário e de navegação na tarde dessa segunda-feira, dia 6, na sede da MPA, em Singapura (madrugada do mesmo dia, pelo horário de Brasília), em uma reunião com autoridades e empresários do mercado portuário do Brasil. Entre os participantes do encontro, estavam a secretária nacional de Portos e Transportes Aquaviários, do Ministério de Portos e Aeroportos, Mariana Pescatori, a diretora da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) Flávia Takafashi e a embaixadora do Brasil em Singapura, Eugênia Barthelmess, além do CEO do Brasil Export, Fabrício Julião.
O encontro foi um dos destaques do primeiro dia da missão internacional do Brasil Export deste ano, que está sendo realizada em Singapura, ilha-nação localizada no Sudeste Asiático e que abriga o segundo maior porto do mundo em movimentação de contêineres. A viagem complementa os fóruns realizados durante todo o ano pelo Brasil Export, maior movimento de debates do setor de infraestrutura do País.
Na reunião, ao analisar os desafios envolvendo a transição energética no setor portuário internacional e no mercado de navegação, o diretor David Foo destacou a necessidade de os navios passarem a adotar combustíveis alternativos, como o metanol, o gás natural e, nas próximas décadas, o hidrogênio, a fim de reduzir a emissão poluentes a base de carbono. A própria MPA inclui, entre suas ações para reduzir os impactos ambientais das atividades portuárias, essa transição energética.
Mas Foo considera que o volume de combustíveis navais a ser utilizado nessa nova fase do setor de navegação será maior, uma vez que esses produtos alternativos tem uma capacidade energética menor do que os derivados de petróleo, entre eles, o óleo bunker, utilizado pelos navios.
“Como esses combustíveis alternativos têm uma capacidade energética menor, teremos mudanças no setor de navegação. Os navios vão parar de crescer tanto, devendo permanecer nas atuais dimensões. E para atender as rotas de navegação, com esses combustíveis sendo consumidos mais rapidamente, haverá a necessidade de os navios serem abastecidos com uma maior frequência. Vamos precisar de uma quantidade maior desses produtos. É nesse cenário que o Brasil terá um papel estratégico, por ser o principal produtor mundial desses combustíveis”, explicou o executivo.
Inovação tecnológica
No encontro, o diretor da MPA ainda apresentou outras estratégias “verdes” adotadas pela autoridade portuária, principalmente ações para ampliar sua eficiência operacional. Também foram discutidos os planos de inovação tecnológica do porto asiático, em especial seus projetos para atrair start-ups e companhias tecnológicas.
Segundo David Foo, o complexo portuário de Singapura acaba se tornando “um grande laboratório”, onde empresas podem desenvolver e testar novas tecnologias. A MPA, em parceria com o setor privado, financiam essas iniciativas, obtendo em primeira mão processos e equipamentos que podem reduzir custos operacionais.
As ações de inovação da autoridade portuária também reforçam seu papel como um dos principais complexos marítimos mundiais. “As pessoas sabem que, se (uma nova tecnologia) funciona em Singapura, certamente funcionará em qualquer porto do globo”, destacou David Foo.
Na mesma reunião, a secretária nacional de Portos e Transportes Aquaviários do Brasil, Mariana Pescatori, e a diretora da Antaq Flávia Takafashi apresentaram os planos do Governo para o setor portuário, em especial o programa de arrendamentos de terminais e as ações para aumentar a eficiência do segmento.
A embaixadora brasileira Eugênia Barthelmess enfatizou o interesse do Governo Federal em atrair investimentos estrangeiros, principalmente de Singapura, que já está presente no Brasil a partir dos escritórios locais de seus órgãos.