Carta do Centro-Oeste Export 2023
A urgência em aumentar a capacidade de armazenagem e a eficiência do escoamento da produção agrícola foi o principal foco de debates do Centro-Oeste Export 2023, realizado em Sorriso, cidade localizada no estado do Mato Grosso e conhecida por ser a maior produtora de soja do Brasil. O fórum regional contemplou questões muito relevantes para o desenvolvimento econômico do Centro-Oeste, região que é uma grande referência agropecuária, reunindo 3 dos 7 estados com maior valor bruto de produção do Brasil. O município de Sorriso recebeu de braços abertos a comitiva que visitou a região, com a liderança do prefeito Ari Lafin. Na lista dos 100 municípios com maior valor agregado do agronegócio brasileiro, Sorriso ocupa a primeira posição e está acompanhado no ranking por outras 12 cidades que integram o Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Econômico e Socioambiental Vale do Teles Pires (Cidesa).
Região detentora de aproximadmente 70% da produção de soja e milho em todo o Brasil, o Centro-Oeste carece especialmente de armazéns para estocar essas commodities e de ferrovias. No que tange à armazenagem, o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no último mês de junho, indica que o estado do Mato Grosso possui a maior capacidade de armazenagem do País, com 47,5 milhões de toneladas. Embora expressiva, a quantidade é muito menor do que o essencial para atender adequadmente aos mercados interno e externo. Pesquisa divulgada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e realizada pela Esalq Log (USP) aponta que a armazenagem nas propriedades no Brasil representa hoje 15% do total produzido. Em termos comparativos, esse índice é de 56% nos Estados Unidos, uma outra potência agrícola mundial. Ou seja, fazendo um cálculo similar a partir da produção de grãos em Mato Grosso, nós temos um déficit superior a 50 milhões de toneladas em capacidade estática.
Essa realidade pode ser detectada para além da frieza dos números. Já é possível ver colheitas de grãos colocadas do lado de fora dos galpões. Para reverter esse cenário rapidamente – e que pode ser agravado pelos sucessivos crescimentos das safras agrícolas da região -, é fundamental melhorar a política de crédito para o segmento e envolver agentes públicos e iniciativa privada nessa valorosa missão. Neste sentido, o fórum regional clama pela facilitação do acesso aos recursos do Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), linha de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES).
A melhor distribuição da matriz de transportes do Centro-Oeste é outro fator imprescindível para melhorar a competitividade do Brasil no mercado internacional. Apesar de ser responsável por quase 30% da produção nacional de grãos, o estado do Mato Grosso dispõe de apenas 366 quilômetros de ferrovias, o que equivalente ao irrisório índice de 1,16% da malha nacional. Por consequência, a frota de carretas e caminhões do território mato-grossense é o maior proporcionalmente à população entre todos os estados brasileiros.
Buscando melhores caminhos, o primeiro dever de casa é melhorar as condições das rodovias que cruzam o Mato Grosso e os vizinhos Mato Grosso do Sul e Goiás. Fazer o básico, pavimentando e sinalizando as estradas já existentes, certamente irá beneficiar instantâneamente toda a cadeia do agronegócio e a qualidade de vida dos habitantes da região.
Mas é preciso ir além e ampliar a infrestrutura de transportes de outros modais. Nesta linha, a construção da Ferrogrão é um tema que se arrasta há anos, apesar de todo o apoio do setor produtivo, favorável à construção da malha que ligaria Sinop (MT) a Itaituba (PA). Afinal, a região é essencialmente produtora de commodities, que exigem o uso de meios de transporte com grande capacidade. Também é aguardada agilidade na conclusão de duas ferrovias em construção: a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (FICO), com o trecho de Mara Rosa (GO) a Água Boa (MT), e a Ferrovia de Integração Estadual de Mato Grosso, que será administrada pela Rumo Logística e construída com capital 100% privado. Um investimento calculado em até R$ 15 bilhões, passando por 16 municípios do estado. O primeiro trecho, cuja construção foi inicida no ano passado, terá cerca de 210 quilômetros entre Rondonópolis e Campo Verde.
Também é possível utilizar com mais inteligência os rios que cortam os três estados e adjacências, transformando trechos com capacidade de navegação efetivamente em hidrovias. Uma boa notícia desponta com o possível recorde de exportação de soja pela Hidrovia Paraguai-Paraná neste ano. Mas os números, ainda que alcançados, são muito tímidos: cerca de 700 mil toneladas em 12 meses.
A Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) não vem medindo esforços para estudar a possibilidade da concessão de algumas hidrovias, além de avaliar quais as prioridades dentro de seu portfólio. É importante ressaltar que cada comboio com cerca de 25 barcaças para transporte hidroviário de carga carrega o equivalente a 1.200 caminhões. Levar cargas para o transporte aquaviário reduz o custo de operação e os impactos ambientais.
Todas essas frentes de trabalho estão no radar do Conselho do Centro-Oeste Export, com o objetivo de contribuir para maior competividade do setor agrícola, das ações mais básicas às grandes obras estruturais. Enxergar o planejamento logístico de forma integrada é essencial para o sucesso, apontando prioridades, incorporando boas práticas de sustentabilidade e contribuindo para fazer do Brasil uma potência produtora, exportadora e referência internacional no setor.